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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

À minha próxima namorada


Haverá entre nós uma atração, de certo que sim. Mas devo avisar que as paixões arrebatadoras me parecem mais com peça de museu do que com nova experiência. Aprendi a amar um amor tranqüilo, que gosta e repousa, sem a sofreguidão dos amores juvenis. Mas tenho cá dentro, uma chamazinha marota capaz de aquecer uma noite inteira e anos a fio. Não, minha amada, não sou mais da noite. Deixei de perseguir a lua porque descobri a beleza das manhãs e da promessa de um novo dia inteiro.
Quando depois do gozo, eu fechar os olhos não é para sonhar com o futuro, mas para repousar no presente que me embala. Não lhe amarei com desespero, nem meu prazer será medido em quantidade, mas conheço atalhos de sedução que você mal poderá acreditar.
Quero sua companhia. Quero preparar e tomar ao seu lado um bom café com frutas, uma bandeja e à brisa de manhãs outonais. Sim, meu anjo, o outono ficou mais interessante do que o verão nos últimos anos.
A música, companheira infinita, que eu já usei para diversão, ouço agora com sentimento. E quando andarmos na rua, meu bem, não me extasiarei mais com carros ou motos do que com uns móveis ou com o sapato infantil que um dia calçará nosso filho.
Se quiser me acompanhar, você terá que me ouvir falar de meu time de futebol, que é paixão anterior a você, mas sempre que eu precisar escolher, a bola estará em seus pés.
Meu ciúme é sim fruto da insegurança, mas minha insegurança não nasce da baixa auto-estima, ela nasce do desejo de não lhe perder, porque você há de me fazer bem.
Todos os meus defeitos estão mais visíveis, minhas qualidades também. Minha fidelidade a você será antes de tudo, fidelidade aos meus sentimentos. Por isso, traição pode ser algo distante de nós dois, mas quero que você me conquiste diariamente, surpreenda-me, desperte-me, seduza-me.
Quero que você cuide de seu corpo sem obsessão, mas que cuide de seu corpo. E do meu. Escolha minhas roupas e os programas, mas permita-me não perder a individualidade. Não fume se possível, beba mais um gole se possível. Arrume nossa casa, invista em sua carreira profissional, mas não se entregue demais ao trabalho.
Não caia aos meus pés, mas não oculte sua dependência de mim. Dê-me e peça-me colo. Saiba dizer não, mas não deixe de dizer sim... Ou talvez, que um bom talvez traz mistério e incita desejos. Incite desejos, realize os meus.
Por fim, namore-me pra lá das alianças, até o fim.

Jura Arruda - escritor

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