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quinta-feira, 29 de abril de 2010

O canil ficou vazio no fim do corredor

Câncer.

O Dr. Luiz diagnosticou. Uma semana depois o canil no fim do corredor ficou vazio. São 15 passos entre a escrivaninha e o canil, o espaço inabitado adquire uma penumbra, consolida-se em meandros obscuros, um limo que sempre esteve ali só agora aparece com sua notícia de desalento e abandono, algumas folhas de palmácea forram o chão ampliando o vigor da ausência.

Dias de chuva. Seguidos dias de muita chuva. Nem seu pavor de molhar-se o moveu mais. Ontem à noite ele já não entrou na casinha, não bebeu, não comeu, não tomou os remédios. Os olhos tristes – tristíssimos – vaga-lhe uma expressão de torpor, de angústia, de entrega de “deixe-me ficar só, com a minha dor”. Não, não eram olhos de medo, talvez um pedido de “acabem logo com isso”. Mas soube esperar sua hora com aquela altivez de Setter Gordon que lhe acompanhou a vida.

Estava em Florianópolis, Wil ligou dizendo que fizera um acolchoado de toalhas, mas ele não reagiu, estava com o pescoço rígido, os olhos fundos e mudos. Disse-lhe que era melhor chamar o Dr. Luiz. Ele veio e o Anu se foi. De volta a Joinville, fui vê-lo. Era no chão um amontoado de ossos recoberto de pelos negros. Os olhos leitosos, muito abertos, mirando a noite funda. Meu Deus, toda candura do mundo deposita-se nessas formas já em decomposição.

Esta perda é em mim que se abate. À noite, ainda ouvimos suas patas longas demais batendo nas paredes quando se vira em seu sono agitado. Posso senti-lo como se estivesse aqui, o seu silêncio cheio de si, o denso respirar, suas passadas leves como uma pluma negra.

Pela manhã, o Kenzo pega-me pelo dedo, vamos até o canil, ele aponta o escuro vazio da casa em seu silêncio baldio. Aos dois anos, que memórias terá de Anu?

Um pedaço de mim morreu. Eram planos simples: ele e o Zeca, um branco e outro preto, a correr, a brincar no gramado, subir até onde a frondosa árvore majestasse em sombra, poder deitar na relva e ver o excelente azul da abóbada como uma lona de circo sobre nós. Dar-lhes um banho de mangueira em um dia de sol e muito calor. Tudo isso morreu. Não houve sítio, gramado, nem a minha disponibilidade. Aquele ser que me sonhara, não houve. E se uma esperança houvesse de um dia vir a ser, está morta. Por isso o repicar das palavras do poeta John Donne, numa adaptação livre: a morte de qualquer cão me diminui, porque o cão humaniza o gênero humano.

PS. Escrevo esta primeira crônica na sexta-feira pela manhã, dia de São Jorge (Oxossi e Ogun), primeiro decanato de Touro, abril – o mais triste dos meses – pleno outono. Bom dia para começar. Bom dia para recomeçar.

Texto de Joel Gehlen, publicado no Jornal Notícias do Dia, dia 26/04/2010.

Bebinho, Mamadinho e o velório de Bafo de Alho

Luiz Taques

Contos - 2008

Ilustrações: Jacinto

Quanto: R$ 15,00

Literatura regional ambientada em Corumbá (MS), retratando o universo de personagens marginais, como bêbados, prostitutas, trabalhadores braçais que, em suas vidas miseráveis, lutam para sobreviver e manter a dignidade em relação ao resto do mundo.

Onde: Editora Letradágua


sábado, 10 de abril de 2010

Feira do Livro

Feira do Livro 10 /Abril/2010
Silvio Melatti, Joel Gehlen e Fernando José Karl.



Feira do Livro 10 abril 2010
Silvio Melatti, Joel Gehlen, Caco de Oliveira e Ilca Soares

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