Amanhã, se completam 20 anos do
desaparecimento de Ulysses Guimarães nas águas azuis do mar de Angra dos Reis.
Devemos muito do Brasil que temos hoje às suas virtudes e ao seu papel, não
apenas no enfrentamento à ditadura militar e no restabelecimento da democracia
no Brasil, mas, principalmente, na elaboração da “Constituição Cidadã”, de
1988. Ela é o principal artífice que vem permitindo o desenvolvimento contínuo
do País em todos os campos, do econômico à inclusão social. De todos os
personagens públicos brasileiros no último meio século, ele é o que mais fez
pela construção da realidade de que desfrutamos hoje.
Ulysses não teve apenas o nome de herói grego, mas viveu uma trajetória à altura dos grandes mitos. A exemplo do personagem de Homero, teve uma vida de provações, enfrentou forças monstruosas e resistiu ao canto sedutor das sereias. Com ele, foram colocados à prova alguns dos princípios do ser humano. Honra, justiça, fidelidade, caráter, solidariedade, generosidade, desapego, entre outros, são valores provados e fortalecidos nas vivências de Ulysses Guimarães.
Ulysses não teve apenas o nome de herói grego, mas viveu uma trajetória à altura dos grandes mitos. A exemplo do personagem de Homero, teve uma vida de provações, enfrentou forças monstruosas e resistiu ao canto sedutor das sereias. Com ele, foram colocados à prova alguns dos princípios do ser humano. Honra, justiça, fidelidade, caráter, solidariedade, generosidade, desapego, entre outros, são valores provados e fortalecidos nas vivências de Ulysses Guimarães.
Como só ocorre com as grandes figuras mitológicas, Ulysses trilhou um caminho solitário. Embora sempre rodeado por bons companheiros – entre eles um de Joinville – e da onipresença de dona Mora que, a exemplo de Beatriz, foi sua companheira inclusive na senda da morte, Ulysses viveu a mais dramática das solidões: a de estar só entre as gentes. Por mais que partilhasse e acolhesse conselhos, suas decisões exigiam dele o sacrifício de se saber o único responsável.
A vaidade é o pecado preferido do diabo, põe a perder o homem comum e, em especial, é a perdição das figuras públicas. Mãe da ambição, da arrogância e das injustiças, leva-nos a trilhar caminhos atrozes para atingir o fim que lhe justifica. Justamente nesse ponto nevrálgico Ulysses enfrentou – e venceu – sua maior tentação. Durante os Anos de Chumbo, foi o quixotesco anticandidato no jogo perdido do Colégio Eleitoral que elegia os presidentes ditadores. Estabelecidas as condições para vencer nessa arena que tantas vezes o derrotou, abdicou da vitória em favor de Tancredo Neves; com a morte de Tancredo, a cadeira presidencial estava em suas mãos, bastava assumi-la, não o fez.
Restabelecido o voto direto, bebeu o cálice amargo do abandono, seus companheiros – salvo honrosas exceções – o trocaram por 30 moedas de poder. Deposto Collor de Mello, a faixa presidencial voltou a flertar com o velho guerreiro, no entanto, no dia da Padroeira de Aparecida e das crianças, ele foi ao encontro do seu destino no abismo de azul e sal. A glória do seu legado não é a resistência aos militares, mas as sucessivas renúncias à vaidade. Para ele, não havia outro poder senão o seu sonho de poder.
Joel
Gehlen, jornalista
0 comentários:
Postar um comentário