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quinta-feira, 12 de julho de 2012

A falência do indivíduo


Em meados do terceiro século AC, os romanos haviam dominado toda a península itálica e lançaram-se à conquista da Sicília. A ilha, então, era dos cartagineses, que dispunham de ampla vantagem de tropas e armas em terra, também eram os senhores do mar, contando com numerosas embarcações, muito bem equipadas e pilotadas por experientes marinheiros. Já os romanos lutavam com ferocidade no campo, mas eram nulos nas batalhas navais. Mesmo assim, nos 14 anos de guerra que se seguiram, aprenderam a arte da marinharia e derrotaram os cartagineses sucessivamente em todos os ambientes, tomando-lhes as possessões da Sicília, Sardenha e Córsega, e o domínio dos mares, chegaram a desembarcar na costa da África pondo em perigo a própria Cartago. Nessa ocasião, um mercenário de origem espartana foi contratado para fazer frente aos invasores. Imediatamente ele diagnosticou a origem das derrotas nas estratégias equivocadas dos comandantes e não na fraqueza das tropas. Sob o seu comando, os cartagineses lograram impor uma primeira vitória aos romanos.

Essa passagem, relatada com minúcia por Políbios, no livro “História”, fez-me lembrar do quanto nosso destino está atado ao daqueles que nos lideram. Assim, ofereço-a como forma de reflexão para o momento político que vivemos. Desde os remotos tempos das cavernas, quando o homem tornou-se gregário para melhorar a proteção, conseguir víveres e sobreviver, que o indivíduo deixou de ser dono absoluto de seu destino. Uma incômoda parcela do nosso êxito pessoal depende da capacidade de nossos líderes, quer gostemos deles ou não. Agora é o tempo em que podemos fazer alguma coisa por nós. Após as eleições, as influências pessoais serão mínimas.

O mais desastroso em ser representado por um falso líder é que os efeitos mais pernósticos das suas decisões têm efeito retardado. Podemos sofrer durante anos, uma geração inteira, uma vida inteira, em função do que um sujeito fez ou deixou de fazer em nosso nome. Quase tudo que você é e tudo que você tem, o que você come, veste, a maneira como se locomove, e mesmo as ferramentas fundamentais para a percepção do mundo, adquiridas na educação, dependem desses sujeitos. Até o tempo de vida e a qualidade dela, está nas mãos deles. No entanto, não temos tempo para eles, os vemos com escárnio, repulsa e desprezo, como se fossem todos vigaristas prontos a nos enganar. Mal os suportamos na campanha e vamos votar por força da obrigação. Não se engane dizendo que o brasileiro é assim, pois o mundo está desse jeito, está em crise de representatividade, sofre fatal fragilidade das lideranças. E quando os representantes adoecem, a falência é do indivíduo: eu e você.
Joel Gehlen, escritor e jornalista

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